Vimos em post anterior (aqui), os conceitos do diamante da fraude. Hoje vamos fazer um exemplo prático de como aplicar o diamante da fraude num caso em uma empresa.
Temos dois personagens, o José e o João. Três empresas, a empresa 1234 Industrial S/A, a Revendedora KKK LTDA e a INDUSTRIAS ZZZ.
José trabalha na empresa 1234 Industrial S/A como vendedor externo e um de seus clientes é a Revendedora KKK LTDA. Essa relação comercial existe há vários anos.
José conhece João há muito tempo, ambos trabalharam na 1234 Industrial S/A e João deixou a empresa há dois ou três anos e trabalha na INDÚSTRIA ZZZ. O bom relacionamento entre eles continua e acabam tendo clientes comuns, que é o caso da Revendedora KKK LTDA.
Lembram do diamante da fraude?
A NECESSIDADE
O primeiro ponto é a necessidade – José está passando por problemas familiares ligados a um investimento que foi mal feito e não está conseguindo solucioná-los sozinho. Não sabe se a empresa pode ajudá-lo. É um problema que o atormenta todo o dia. Ainda tem esperança de solução com um empréstimo bancário.
Um dia José e João se encontram num cliente e enquanto aguardavam para serem atendidos conversaram e o assunto foram os negócios. João disse que queria fazer uma proposta para José e marcaram de se encontrar num bar depois do horário de trabalho.
Se encontram no local combinado. José reclama da vida e João pergunta se ele ainda atende a Revendedora KKK LTDA. José diz que sim e que já havia visitado a empresa nesta semana e que estava aguardando um e-mail para oficializar uma proposta para a empresa.
João, neste momento, lhe faz uma proposta indecente. João tem perdido algumas vendas para a empresa de José e João precisa fazer uma venda urgente para cumprir a meta do ano e ganhar seus salários de bônus. João sabe que o seu concorrente direto é a empresa de José e que a venda para a Revendedora KKK LTDA seria essa oportunidade de bater sua meta.
A proposta de João é que José faça uma oferta com valor maior do que a dele e com isso João conseguiria a venda e receberia seu bônus e José seria gratificado pela ajuda.
CONTROLES FRACOS
João, por ter trabalhado na mesma empresa que José sabe que os controles internos são fracos, que não existe um código de ética e conduta nem políticas de relacionamento. Questiona se as ofertas ainda são enviadas para o e-mail do vendedor ao invés de diretamente ao cliente, o que José confirma.
Chegamos ao segundo ponto do diamante. A falta de controles ou controles fracos. Agora José já tem a necessidade e a oportunidade com os controles fracos. Só falta a racionalização e a capacidade.
Neste momento João fala “Sabe, no último ano recebi quase cinco salários de bônus e neste ano, com esta venda que estamos acertando, receberei por volta de seis salários. E você?” José, cabisbaixo responde: “Eu recebi só meio salário no ano passado. Eu não entendi bem como era a meta e nem como foi calculada, mas, preciso desse emprego e não falei nada. Ainda disseram que o mercado estava complicado, alta do dólar e outras coisas, mas, o meu chefe trocou de carro”.
A RACIONALIZAÇÃO
Estamos no caminho de mais um ponto do diamante que é a racionalização onde, José fica pensando no que acontece no seu emprego. Pensamentos como “não sou valorizado”, “a empresa ganha muito”, “nunca sei as metas e depois perco meu bônus” e outros passam como um filme na sua cabeça. Mas, ainda falta algo no nosso exemplo, que é a capacidade de executar a fraude. Em muitos casos bastam estes três aspectos que vimos para que a fraude tenha seu caminho definido, pois, a falta de controles é tão evidente que qualquer pessoa pode agir de forma impune. Lembrando que a empresa pode e deve agir em pelo menos dois dos que já vimos, melhorar ou criar e aplicar seus controles com um programa de COMPLIANCE e agir em cima das racionalizações com uma mudança cultural, que também é fruto de um programa de COMPLIANCE quando bem aplicado.
A CAPACIDADE
Mas, José e João ainda têm um pequeno problema. Os e-mails com as ofertas são enviados para o e-mail dos vendedores em formado PDF e para José isso é um problema e usa isso como sendo algo que vai dificultar a ação de ambos. Aparentemente José já está convencido e com quase todos os argumentos para a ação, mas, vê uma dificuldade.
João prontamente diz que pode solucionar esse problema. Basta que José, quando receber o e-mail da proposta da Revendedora KKK LTDA passe para ele que ele mesmo consegue mudar a informação e que ninguém irá descobrir pois, já tem feito isso com outros concorrentes em outras empresas que também atende.
Pronto. Fechamos o diamante. José está com tudo preparado para cometer uma fraude contra sua empresa.
Temos dois finais possíveis. Um com José “se dando bem” e outra com José “se dando mal”.
Aguarde.......
No próximo post vamos descobrir o final em que José “se dá bem”.
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